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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Escravos da moda na construção da roupa

Este Blogueiro achou muito interessande o artigo de opinião da acadêmica de jornalismo Mariana Zirondi, da Unopar, em Londrina, e socializa esta verdade no Guardafogo, com a anuência da autora
Escravos da moda na construção da roupa
A rea­li­da­de de qua­se 100%das in­dús­trias do ­país não têm bri­lho e nem ele­gân­cia. Ela é ­árdua
São fios que se entrelaçam e viram tramas e urdumes. As cores variam. E o peso, a espessura e o volume também. Tudo é plano, felpudo ou tramado. Não importa. Quando cortado em várias partes, aos poucos, vai dando vida ao que antes era apenas tecido. E nessas formas a agulha atravessa a camada jogando uma linha que será laçada por outra e formará um ponto. E outro. E outro. E outro... até que as partes se unam, cresçam e deem vida ao que se usa todos os dias, o tempo todo: a roupa.

O movimento de criação do vestuário é um longo processo de pensamento, estratégia, planejamento e mão de obra. Já a moda é essa peça transformada em produto, consumo e desejo. A moda pode ser bonita, pode ser cara ou pode ser barata. O que agrega valor pode ser o tecido, o design, a cor, as tendências ou mesmo a marca. Mas, por trás da moda é roupa, e mais do que isso, é trabalho.

Milhões de famílias sobrevivem da moda. Trabalhadores que estão empregados desde a fabricação do tecido até a venda na loja. E o que o consumidor vê é algo pronto e acabado. Mas a grande verdade é que o glamour da moda, que muitos se encantam em revistas e blogs, são momentos fabricados pela mídia em corpos socialmente admirados pela massa. A realidade de quase 100% das indústrias do país não têm brilho e nem elegância. Ela é árdua.

A produção é em série. Quando se chega a um chão de fábrica, como são chamadas as confecções de vestuário, a visão é quase sempre a mesma: máquinas de costura, tecidos e pessoas, em grande maioria, mulheres. O teto é baixo, pois as luzes precisam ser fortes, maquinário precisa estar ligado e ventiladores devem fazer milagres. O calor é intenso, em alguns casos, não há janelas e ar fresco. O barulho dos pedais se mistura com a poeira do corte do tecido, e o desânimo. Vontade de que tudo acabe ou comece de novo.

Cada costureira fica em seu espaço, esperando que o responsável pelo seu setor lhe dê trabalho. As conversas são vigiadas, pois não se pode ter distração. A roupa é cortada em partes, e com as divisões por tipos de máquinas, há a distribuição de funções. Em muitos casos, a costureira sabe como é a peça final, mas o trabalho é mecânico, rápido e precisa ser eficiente. E, por isso, ao encontrar o produto pronto e acabado, não reconhece, nele, sua força de trabalho. Os pedaços que ajudou a unir não tinham forma e nem conteúdo.

Tudo é contabilizado para o salário final. Metas devem ser atingidas. Lucros. Não importa se a quantidade de trabalho dobra, a quantidade de funcionários é a mesma. Eles acreditam em um acréscimo que parece valer a pena. Mas a grande verdade é que os centavos de cada peça, quando somados, não são nada.

O ser humano é programado para o trabalho. A necessidade de todos os dias faz com que as prioridades e objetivos se canalizem para desenvolver funções de maneira eficaz. Assim, o proletário mergulha em suas obrigações e se aliena no que está fazendo. Quando se dá conta, o dia acabou. À frente, só se vê muitas partes de uma peça que talvez nunca possa comprar.

O que se passa pela cabeça durante o trabalho? De que maneira o indivíduo consegue refletir sobre suas ações e como pode tentar melhorá-las? O abismo entre o projeto e o desenvolvimento não consegue ser preenchido, pois os responsáveis por eles estão imersos em suas funções e não podem sequer entender o que acontece do outro lado. E tudo isso porque todos nós, inclusive o trabalhador, devem alimentar o consumo desenfreado que a indústria da moda nos oferece, e nós aceitamos e usamos. E quando dizem que não se pode ser escravo da moda, mentem. Afinal de contas, consumir moda é uma escravidão, e fazer com que ela sobreviva e chegue até você, também.

MARIANA ZIRONDI é estudante de Jornalismo na Unopar em Londrina

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