Breve: Louva-a-deus, um inseto mal compreendido

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fome: desperdícios e outros motivos

Ricardo Alexius
Dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que o Brasil produz alimentos na proporção de 25,7% a mais do que seria necessário para alimentar toda a sua população.
Numa pesquisa inédita no Brasil sobre Segurança Alimentar, o IBGE divulgou, na precisa data de 17 de maio de 2006, que cerca de 14 milhões de pessoas convivem com a fome no país, e mais de 72 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar - ou seja, dois em cada cinco brasileiros não têm garantia de acesso à alimentação em quantidade, qualidade e regularidade suficiente.
Este mesmo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apurou também no Censo Agropecuário de 2007 que, no país do agronegócio, 2,8% das propriedades rurais são latifúndios que dominam mais da metade da extensão territorial agricultável (56,7%).
Um levantamento feito por Sérgio Porto, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), feito neste ano, mostra que das 149 milhões de toneladas da safra de grãos, 80% são de soja e milho, e outros 10% de arroz. Três produtos dominam a produção brasileira de grãos.
Não estamos falando de pesquisas caseiras trazidas à mídia por grupos de interesses escusos, mas sim de institutos de irrefutável credibilidade.
A começar pelo motivo desperdício, mais de 20% dos alimentos produzidos literalmente apodrecem antes de chegar ao consumidor, e há casos em que até 60% se perde, fruto da falta de planejamento e de escrúpulos de alguns consumistas, bem como de um transporte inadequado e ausência total de um plano de zoneamento de produção.
O atual sistema imperialista tratou de promover o sucateamento dos meios de transporte mais eficientes e com menos desperdícios, como o ferroviário, o fluvial e o naval, em prol do rodoviário, que gera mais dividendos às indústrias monopolistas do petróleo, metalurgia, borracha, asfalto e outros, apesar de colaborar com o aumento na emissão de gases.
Mas "o buraco é mais embaixo". Os detentores dos latifúndios há pouco citados vangloriam-se bradando aos quatro ventos que graças às commodityes é que conseguimos equilibrar a balança comercial. Bazófia. Causa e consequência devem ser repostas a seus lugares. Não é graças às commodityes que o Brasil exporta mais. Com a distribuição desigual de renda e a valorização do real, cresce a importação de bens para atender às camadas de maior renda, pressionando assim a conta corrente brasileira, o resultado final entre entradas e saídas. Pois este setor é que foi escolhido para "fechar" esta conta, mas não está conseguindo, uma vez que o país precisaria exportar muito.
A tendência óbvia é de crescimento do déficit, pois a produção e o mercado interno são mal distribuídos, e as classes de menor renda não conseguem suportar essa pressão.
A Rádio ONU em Nova York divulgou este mês um estudo apresentado pelo relator da ONU sobre o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, denominado "Agroecologia e Direito à Comida", revelando que pequenos agricultores podem dobrar a produção agrícola em apenas uma década, caso adotem práticas orgânicas.
A pesquisa, ao contrário da opinião de "lideranças pensadoras" da nossa região, evoca que as medidas funcionaram em 20 países africanos, que conseguiram 100% a mais de resultado em suas lavouras num período de 3 a 10 anos.
O relator afirmou que a agricultura convencional utiliza meios mais caros e não está preparada para as consequências da mudança climática.
Outra vez estamos a sondar fontes de renome. O programa pode ser ouvido no site da Rádio ONU em http://downloads.unmultimedia.org/radio/pt/real/2011/11030817i.rm.
Não precisamos de um "novo" Código Florestal lenhador para livrar a pátria do flagelo da fome.

Artigo publicado pelo Jornal O Paraná de 25/03/2011 http://www.oparana.com.br/Paginas/20110325/opiniao.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode fazer aqui sua crítica ou comentário.